Ficha técnica

Autores
Osvaldo Santos, Carolina Capitão, Mónica Fialho, Eduardo Silva, Sara Freitas, Nuno Clímaco, Carlos Raposo, Luísa Schmidt, Ana Horta

Promoção e financiamento do estudo
Lisboa E-Nova – Agência de Energia e Ambiente de Lisboa

Construção do instrumento de recolha de dados
Lisboa E-Nova – Agência de Energia e Ambiente de Lisboa
Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa

Recolha e análise dos dados, escrita da primeira versão do relatório
Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

Revisão do relatório
Lisboa E-Nova – Agência de Energia e Ambiente de Lisboa
Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa

Copyright© Lisboa, 2023
Lisboa E-Nova – Agência de Energia e Ambiente de Lisboa
Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
Unbreakable Idea Research



Sumário executivo

Este relatório apresenta os resultados do inquérito sobre conforto térmico e saúde humana da população do concelho de Lisboa, conduzido entre outubro de 2022 e dezembro de 2023. O inquérito foi realizado através de entrevistas telefónicas a 1391 adultos (25 anos ou mais) residentes no concelho de Lisboa.

Mais de metade dos participantes relataram sentir, pelo menos algumas vezes, desconforto térmico dentro das suas habitações no verão (56,5%) e quase dois terços no inverno (63,2%). Cerca de um quarto da amostra indicou que as suas casas estão muitas vezes demasiado quentes ou demasiado frias, consoante a estação do ano.

O desconforto térmico em ambas as sazonalidades foi mais frequente entre os participantes sem capacidade financeira para aquecer ou arrefecer a casa a uma temperatura adequada, em habitações de agregados familiares que referem estar em situações financeiras mais difíceis e que tiveram de se atrasar no pagamento nas faturas de energia por serem demasiado elevadas. Foi também mais frequente em habitações com áreas até 150 m\(^2\), com fraco isolamento térmico, problemas de humidade, com janelas de vidro simples e caixilharias metálicas sem isolamento.

O desconforto térmico apenas no verão foi mais frequente em casas arrendadas, em apartamentos cobertura, com menor número de divisões e sem espaços exteriores.

O desconforto térmico apenas no inverno foi mais frequente em habitações de agregados familiares com rendimentos mais baixos, construídas antes de 1960 e com janelas com caixilharias de madeira.

Da amostra inquirida sobre a capacidade financeira para manter a casa a uma temperatura adequada durante o inverno, 22,0% indicou não ter esta capacidade, o que reflete um aumento em comparação os dados disponíveis pelo Eurostat de 2022 para Portugal de 17,5% (Eurostat, 2022a). Referente ao período de verão, 26,5% indicou não ter capacidade para manter a casa adequadamente arrefecida. Esta incapacidade foi mais frequentemente relatada pelas mulheres, participantes com escolaridade até ao 12.º ano e participante a viver em casas demasiado frias ou quentes.

Dos participantes que relataram as suas experiências no verão, 8,7% indicou se ter atrasado no pagamento da fatura de eletricidade ou gás nos 12 meses anteriores à entrevista por dificuldade financeira. Similarmente, 9,7% dos participantes que relataram a sua experiência sobre o inverno também indicaram esta situação. Ambos os valores representam aproximadamente o dobro da frequência relatada a nível nacional de 4,7% (Eurostat, 2022b).

Aproximadamente dois terços das pessoas inquiridas desconhecem se a sua habitação tem classe energética atribuída ou qual a classe energética a que pertence.

Cerca de um terço das pessoas inquiridas nunca ouviu falar sobre programas de apoio para melhorar a eficiência energética habitacional.

Aproximadamente um terço das pessoas inquiridas considerou que o calor não afeta em nada a saúde (31,5%) e 23% considera que o frio não afeta em nada a saúde.

Mais de metade das pessoas inquiridas relataram que a sua qualidade do sono é prejudicada pelo calor que sentem em casa no verão.

Participantes que relataram muito desconforto térmico no verão indicaram piores níveis de bem-estar, tendo sido mais frequente uma avaliação de bem-estar fraco.

A possibilidade de desconforto por calor no interior das casas é cerca de 1,8 vezes maior entre quem sofre de asma do que entre quem não sofre desta doença crónica e 1,6 vezes maior entre quem sofre de alergias. Também se verificou uma relação entre o desconforto térmico no inverno e situação de insegurança alimentar num nível de carência de alimentos por incapacidade económica. Esta associação (independentemente das características sociodemográficas) entre problemas crónicos de saúde e perceção de frio ou calor não foi encontrada para outras doenças ou problemas crónicos de saúde.

Os resultados deste inquérito também disponíveis em dashboard aqui.

Introdução

Este relatório apresenta, de forma detalhada, os resultados do inquérito conforto térmico autorrelatado e sua associação com indicadores comportamentais e de saúde, no concelho de Lisboa. Este estudo foi promovido pela Lisboa E-Nova – Agência de Energia e Ambiente de Lisboa e realizado pelo Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (ISAMB-FMUL), também com a colaboração do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Este inquérito realizou-se no seguimento de um estudo piloto sobre Pobreza Energética, também promovido pela Lisboa E-Nova, em conjunto com a AdEPorto, Agência de Energia do Porto, realizado entre 2021 e 2022.

Este inquérito procurou conhecer as experiências relativamente ao conforto térmico no interior das habitações e compreender a relação com alguns indicadores da saúde dos residentes no concelho de Lisboa de adultos com 25 ou mais anos de idade residentes em Lisboa, durante o verão e o inverno.

Neste relatório encontra-se um sumário dos principais resultados, seguido da apresentação detalhada dos resultados em forma de tabela ou gráfico dividida em quatro secções: caracterização das amostras, resultados sobre conforto térmico, experiências e características relevantes relativas ao inverno e experiências relativas ao verão.

Métodos

Este estudo seguiu um desenho de estudo observacional transversal com três momentos de recolha de dados através de entrevistas telefónicas assistidas por computador (CATI system) operacionalizado através de questionário estruturado online, utilizando a plataforma LimeSurvey®.

A recolha de dados foi realizada após a sazonalidade em avaliação: verão entre 21 de outubro e 23 de dezembro de 2022 e 6 de outubro a 10 de dezembro de 2023; inverno entre 23 de março e 26 de junho de 2023. Em todas as fases, os dados foram recolhidos por entrevistas telefónicas realizadas por profissionais de saúde (n = 33). Antes da recolha de dados, todos os inquiridores passaram por um processo de formação sobre o âmbito, objetivos e métodos do projeto, bem como estratégias relacionais de condução da entrevistas e conteúdos específicos do questionário. Todos os procedimentos necessários para o recrutamento de participantes e condução das entrevistas foi detalhado em manual de forma a garantir a homogeneidade dos procedimentos utilizados na recolha de dados.

O questionário era composto por cinco secções: apresentação do estudo e consentimento informado; caracterização inicial; caracterização do conforto térmico; caracterização de comportamentos e indicadores de saúde; e caracterização sociodemográfica (questionário disponível em Santos et al., 2023). Em cada fase, o questionário sofreu ligeiras adaptações, adequando-se à sazonalidade e adicionando alguns indicadores considerados relevantes. A duração média da entrevista foi de 20-30 minutos, dependendo da versão aplicada.

O convite para participar no estudo foi realizado através da divulgação do estudo por diferentes vias: por email ao painel do EnviHeB Lab do ISAMB-FMUL (permitindo a partilha do contacto telefónico para a realização da entrevista) e através da colaboração com entidades parceiras. Para participar no estudo, os participantes tinham de ser residentes no concelho de Lisboa, ter 25 ou mais anos de idade e residir na sua habitação há pelo menos 6 meses. O máximo de um participante por agregado familiar foi considerado. Na segunda e terceira fase, os participantes da primeira fase que aceitaram continuar a participar no estudo, foram novamente convidados.

No conjunto das três fases de recolha de dados, 1391 lisboetas participaram no estudo através de um total de 2555 entrevistas. A amostra de verão é composta por 1273 participantes, respondentes à primeira e/ou terceira fase de recolha de dados, enquanto a amostra de inverno inclui os 850 indivíduos que responderam na segunda fase do inquérito. Ambas as amostras não probabilísticas foram ponderadas, ajustando a proporção ao nível do sexo, grupo etário (25-64 anos; \(\geqslant\) 65 anos), nível de escolaridade (até ao 12.º ano; ensino superior) e unidades de intervenção territorial (UIT) de forma a ser equivalente à observada para a população de Lisboa de acordo com o Census de 2021 (Instituto Nacional de Estatística, 2021).

O relatório visa uma apresentação breve de cada uma das variáveis estudadas, as quais foram analisadas e tratadas de forma preliminar. Para a maior parte das variáveis, é feita uma análise univariada e bivariada (cruzando cada variável com as principais características sociodemográficas – sexo, grupo etário, nível educacional e UIT do concelho de Lisboa – e perceção de conforto térmico, considerando os pesos das observações. No caso de variáveis qualitativas, são apresentados o número de indivíduos por classe, ponderado e arredondado à unidade, e respetiva percentagem, bem como o valor-p do teste de \(χ^2\) de Pearson com correção de segunda ordem de Rao-Scott. No que se refere a variáveis de escala quantitativa, são apresentadas estatísticas descritivas sumárias [número de observações válidas, média e desvio-padrão (DP), mediana, quartil 1 e quartil 3 (Q1, Q3), mínimo e máximo] e o valor-p resultante do teste de Kruskal-Wallis.

Para avaliar o efeito de variáveis socioeconómicas e de saúde na perceção de conforto térmico em casa no verão e no inverno, foram ajustados modelos múltiplos de regressão logística binária. Nestes, foram tidas como variáveis dependentes o desconforto no verão (i.e., ter relatado que por vezes / muitas vezes [a casa] está demasiado quente) e o desconforto no inverno (i.e., ter relatado que por vezes / muitas vezes [a casa] está demasiado fria), tendo por base as observações das amostras de verão e inverno, respetivamente. Como preditores, foram avaliados, de forma independente e para cada um dos outcomes: insegurança alimentar: preocupação com possível falta de alimentos; insegurança alimentar: carência de alimento; estado de saúde; obesidade; hipertensão arterial; hipercolesterolemia; alergias; doenças osteoarticulares; doenças cardiovasculares; diabetes; e asma. Para o desconforto no verão, foram igualmente considerados como preditores a toma de antihipertensores, psicofármacos e antialérgicos. O efeito destas variáveis foi controlado para sexo, grupo etário e situação financeira (excepto nos modelos com insegurança alimentar como variável preditora, em que foi considerado, em alternativa, o nível educacional).

Foi ainda avaliado o desconforto percecionado em casa nos últimos sete dias, tendo em consideração a temperatura sentida no período a que se referem as respostas dadas pelos participantes. Estes dados, disponíveis online (https://www.ipma.pt/pt/oclima/monitoriza.dia/), fazem parte da monitorização diária do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), e dizem respeito à temperatura (mínima, média e máxima) do ar registada a 1,5 metros de altura na estação Lisboa / Gago Coutinho, nos períodos de 14 de outubro a 28 de dezembro de 2022, de 16 de março a 25 de junho de 2023 e de 29 de setembro a 9 de dezembro de 2023 (Instituto Português do Mar e da Atmosfera, 2024).

Para avaliar diferenças entre grupos na perceção de conforto térmico na habitação, foram então ajustados modelos múltiplos de regressão logística, tendo por base todos os dados disponíveis. Nestes modelos, a dependência entre observações for tida em consideração mediante a inclusão de uma origem aleatória por indivíduo em modelos de regressão multinível. Como variáveis preditoras, foram incluídos o sexo, o grupo etário, o nível de escolaridade, a situação financeira e as UIT, além dos valores de temperatura ambiente.

Todas as análises foram realizadas com recurso ao software R, versão 4.3.0 (R Core Team, 2023), e biblioteca “survey” (Lumley, 2023), assumindo-se um nível de significância de 5%.

Descrição dos principais resultados

Conforto térmico

  • Cerca de dois terços dos participantes relataram sentir, pelo menos por vezes, desconforto térmico dentro das suas habitações no inverno (63,2%). Mais de um quarto dos participantes viviam em condições extremas, em que as casas estão muitas vezes demasiado frias (26,7%).
  • Relativamente ao período do verão, 56,5% dos participantes relataram que as suas casas se encontravam, pelo menos por vezes, demasiado quentes. 23,3% indicaram especificamente estar muitas vezes demasiado quente.
  • Quando questionados sobre o conforto térmico da habitação relativamente aos 7 dias que antecederam a entrevista, as mulheres (em comparação com os homens) e os participantes em situações financeiras difíceis ou muito difíceis (em comparação com situações financeiras mais favoráveis) classificaram-no mais frequentemente como desconfortável, independentemente da temperatura exterior desse período.

Inverno

Estratégias para lidar com o frio

  • As estratégias para evitar ou reduzir o frio em casa mais utilizadas pelos participantes no inverno passaram por: vestir e calçar roupa mais quente (85,5%), reforçar a roupa da cama com mais mantas ou edredões (79,5%), e utilizar equipamentos de aquecimento (74,7%).
  • A opção por equipamentos de aquecimento foi mais frequente entre os participantes com ensino superior em comparação com os participantes com escolaridade até ao 12.º ano (83,3% vs. 67,8%). Os equipamentos de aquecimento mais frequentemente utilizados pelos participantes foram o aquecedor a óleo (mais frequente entre os participantes com 65 ou mais anos de idade e entre os participantes com a casa desconfortável), o ar condicionado (mais frequente entre os participantes com ensino superior e entre os participantes com a casa confortável) e os radiadores elétricos.
  • O aquecimento central foi utilizado por apenas 6,7% dos participantes. A opção mais indicada foi a caldeira a gás (4,7%).

Condições da habitação

  • Quando questionados sobre a classe energética da habitação, 42,8% das pessoas inquiridas sobre o inverno não soube dizer se a sua habitação tem ou não classe energética atribuída. Dos que afirmaram ter classe energética, cerca de metade não sabia precisá-la.
  • A classe energética mais frequentemente indicada foi a C (29,8%), seguida da B (23,1%).
  • A maioria dos participantes vivia em apartamentos (54,5% próprios, e 35,9% arrendados).
  • Verificou-se uma relação entre a época de construção da habitação e o desconforto térmico: as casas mais antigas (anteriores a 1960) associaram-se a desconforto térmico no inverno.
  • Verificou-se ainda uma relação entre casas mais pequenas (<150 m\(^2\)) e desconforto térmico.
  • Os problemas mais comuns nas habitações das pessoas inquiridas foram: o fraco isolamento das janelas ou portas (46,4%), presença de humidade (42,3%) e de fungos/bolores (26,8%). Todos estes problemas foram mais frequentes entre os participantes a relatar desconforto térmico.
  • Relativamente ao isolamento térmico da casa, 21,1% dos participantes classificou o isolamento do teto da sua casa como mau; 26,8% relativamente às paredes, e 15,3% ao chão. A apreciação negativa do isolamento térmico foi mais frequente entre os participantes que relataram sentir desconforto térmico.
  • Os tipos de vidro das janelas mais frequentemente relatados foram os vidros duplos. Apesar disso, apenas um quinto da amostra indicou ter vidros duplos térmicos na sua casa (mais frequente em casas termicamente confortáveis). Mais de um terço dos participantes indicou ter janelas de vidro simples, opção mais frequentes entre as casas demasiado frias.
  • As caixilharias mais frequentes são as metálicas sem isolamento (mais frequentes em casas demasiado frias). Cerca de um terço dos participantes relatou ter janelas em PVC e 16,4% indicou ter janelas de madeira.

Situação Financeira e Despesas Energéticas

  • A situação financeira do agregado familiar (autoavaliada) e o nível de rendimento relacionaram-se positivamente com o conforto térmico durante os meses mais frios.
  • Mais de um quinto dos participantes relatou não ter capacidade financeira para aquecer a sua casa a uma temperatura confortável durante os meses de inverno (22,0%). Esta situação foi mais frequente entre as mulheres, participantes com escolaridade até ao 12.º ano e participante a viver em casas demasiado frias. Este valor que reflete um aumento em comparação os dados disponíveis ao nível nacional pelo Eurostat de 2022 de 17,5% (Eurostat, 2022a).
  • A frequência de beneficiários da tarifa social de eletricidade identificados entre os participantes que relataram as suas experiências sobre o inverno (7,3%) foi semelhante ao relatado para a população do concelho de Lisboa pela Direção-Geral da Energia e Geologia (DGEG) (calculado com base nas Estatísticas Tarifa Social de Energia de janeiro de 2024: 6,5%; Direção-Geral de Energia e Geologia, 2024). No que diz respeito à tarifa social do gás, a percentagem de beneficiários (3,5%) foi superior aos valores divulgados no relatório da DGEG (0,9%; Direção-Geral de Energia e Geologia, 2024).
  • O atraso no pagamento de faturas de gás e/ou eletricidade devido ao valor ser demasiado elevado foi relatado por 9,7% dos participantes na onda do estudo sobre o inverno, aproximadamente o dobro do relatado para Portugal de 4,7% (Eurostat, 2022b). Esta situação foi mais frequente entre os participantes com níveis de escolaridade até ao 12.º ano e em situações de desconforto térmico em casa.
  • No total, os participantes relataram gastar em média, por mês, 94,3€ em energia nos meses de inverno. A média da fatura mensal de eletricidade foi de 71,7€ e a de gás 36,7€; a fatura combinada foi de 97,4€. Os participantes com ensino superior que optam pelo pagamento da fatura combinada, em comparação com os com escolaridade até ao 12.º ano, relataram pagar valores superiores. Esta diferença não se verificou na comparação da fatura da eletricidade e do gás isoladamente.
  • O gás em botija é utilizado por 14,8% dos participantes. É mais frequente no Centro Histórico (21,7%), para a confecção de alimentos e para o aquecimento das águas.
  • Cerca de dois terços da amostra consideraram razoável pagar valores até 74€ por mês em gás, eletricidade, e outros combustíveis, para garantir o conforto térmico nas suas habitações. Estes valores variam positivamente com o valor do rendimento, ou seja, quanto mais o agregado familiar recebia por mês, maior o valor até ao qual estava disposto a pagar em energia.
  • Quando questionados sobre a qual a categoria de gastos financeiros mais importante entre conforto térmico outras categorias de despesas, o conforto térmico no inverno foi considerado a prioridade por 85,7% em comparação com as despesas em restauração, por 77,2% em comparação com atividades culturais, por 67,5% em comparação com viajar, por 60,5% em comparação com as poupanças, por 9,5% em comparação com gastos em saúde e apenas por 4,9% em comparação com os bens alimentares.

Saúde e Bem-Estar

  • Aproximadamente dois terços das pessoas inquiridas sobre o inverno classificou o seu estado de saúde como bom ou muito bom. Quase um terço classificou como razoável.
  • Mais de metade da amostra (57,8%) relatou ter algum problema de saúde ou condição com diagnóstico médico confirmado.
  • As condições médicas mais frequentes foram a hipertensão arterial (17,5%), a hipercolesterolemia (11,8%) e outras doenças cardiovasculares para além da hipertensão arterial (9,3%).
  • Metade dos participantes relatou tomar medicação de forma regular.
  • Das pessoas inquiridas sobre o inverno, 16,6% encontra-se em situação de insegurança alimentar (preocupação sobre o acesso a alimentos no futuro) e 6,5% relatou experienciar escassez alimentar por falta de dinheiro para comprar alimentos.
  • Mais de um quinto das pessoas inquiridas indicou que o frio sentido em casa dificulta o estudo, leitura ou escrita, a utilização de computador, e também prejudica a qualidade do sono. Este impacto negativo foi mais frequente entre os participantes entre os 25 e 44 anos e os que relataram sentir demasiado frio em casa.
  • Dos participantes inquiridos sobre o inverno, 23,0% consideram que o frio não afeta em nada a saúde e 31,8% considera que afeta apenas um pouco.
  • Da análise de fatores associados à perceção de desconforto térmico em casa no inverno, destaca-se a relação negativa com a insegurança alimentar no nível de carência (odds ratio (OR)=2,04, intervalo de confiança (IC) 95%: 1,05; 4,28).

Conhecimento e Programas de Apoio

  • Mais de um quinto das pessoas inquiridas considerou não estar nada informado sobre os temas da energia e conforto térmico em casa. Esta perceção de menor grau de literacia sobre energia e conforto térmico foi mais frequente entre as mulheres, inquiridos mais jovens, e com nível de escolaridade até ao 12.º ano. Por outro lado, participantes com casas confortáveis durante o inverno relataram mais frequentemente estarem bem informados.
  • A maioria dos participantes considerou importante ou muito importante a existência de gabinetes de aconselhamento público sobre energia e conforto térmico (88,4%).
  • Cerca de 40% das pessoas inquiridas nunca tinham ouvido falar sobre programas de apoio para melhorar a eficiência energética habitacional. Este desconhecimento foi mais frequente entre as mulheres, participantes mais novos e com escolaridade até ao 12.º ano
  • Das pessoas que tinham conhecimento sobre a existência dos programas de apoio, 11,1% relatou ter submetido uma candidatura. Ligeiramente mais de metade conseguiu obter o apoio.

Verão

Estratégias para lidar com o calor

  • As estratégias para evitar ou reduzir o calor em casa mais utilizadas no verão foram: evitar o aquecimento da casa fechando os estores quando a luz solar é mais intensa (69,0%), manter janelas e portas abertas, criando corrente de ar (68,0%), e utilização de equipamentos de arrefecimento ou de ventilação (58,9%).
  • Os equipamentos de ventilação/ arrefecimento mais utilizados foram as ventoinhas ou colunas de ar (mais frequente entre participantes com a casa desconfortável), seguindo do ar condicionado.
  • A utilização de arrefecimento central foi muito residual (1,6%), sendo a bomba de calor com distribuição por ventiloconvetores a opção mais frequente (1,4%).
  • Um terço das pessoas inquiridas no terceiro momento relatou ter ar condicionado instalado em casa, no entanto, apenas 13,1% indicou utilizar sempre que precisava. Entre os participantes que tinham ar condicionado, mas que não o usavam ou evitavam usar ao máximo, 58,5% indicou que evitava por motivos financeiros. Também foram os motivos financeiros associados à compra do ar condicionado os mais frequentemente relatados como justificação para não ter ar condicionado.

Condições da habitação

  • Quase metade das pessoas inquiridas sobre o verão não soube indicar se a sua habitação tinha ou não classe energética atribuída. Dos que afirmaram ter classe energética, metade não soube precisá-la.
  • A classe energética mais frequente foi a C (29,8%), seguida da B (22,5%).
  • A maioria dos participantes a relatar as suas experiências de verão viviam em apartamentos (54,7% próprio, 35,6% arrendado). O tipo de apartamento relacionou-se com o conforto térmico, sendo os apartamentos do último andar mais quentes e os do primeiro andar mais frescos.
  • As habitações com espaço exterior, com maior número de divisões e com áreas úteis superiores (>150 m\(^2\)) associaram-se a melhor conforto térmico.
  • Os problemas mais comuns nas habitações das pessoas inquiridas foram: fraco isolamento das janelas e portas (57,6%), a humidade (40,2%), a falta de ventilação (30,8%) e a presença de fungos/bolores (21,3%). Todos os problemas foram mais frequentes em habitações demasiado quentes.
  • Os motivos mais indicados para não conseguir ventilar adequadamente a casa foram o ruído do exterior, a entrada de insetos e a ausência de janelas em casas de banho.
  • Cerca de 21% dos participantes considerou o isolamento do teto da sua casa mau, 25% o isolamento das paredes, e 16% o isolamento do chão.
  • Os tipos de vidro das janelas que foram mais frequentemente relatados foram os vidros duplos; apesar disso, apenas um quinto da amostra indicou ter vidros duplos térmicos na sua casa. Mais de um terço dos participantes indicou ter janelas de vidro simples.
  • As caixilharias mais frequentes são as metálicas sem isolamento. Cerca de um terço dos participantes relatou ter janelas em PVC e 14,2% indicou ter janelas de madeira.

Situação financeira e despesas energéticas

  • Participantes que avaliaram mais negativamente a situação financeira do seu agregado familiar viviam mais frequentemente em habitações desconfortáveis termicamente.
  • Um em cada quatro participantes da 3.ª fase do inquérito relataram não ter capacidade financeira para arrefecer a sua casa a uma temperatura confortável durante os meses de verão. Esta resposta foi mais frequente entre as mulheres, participantes com escolaridade até ao 12.º ano e participantes com casas demasiado quentes (44,2% dos inquiridos que viviam em casas muitas vezes demasiado quentes).
  • A frequência de beneficiários da tarifa social de eletricidade identificados entre os participantes que responderam sobre o verão (4,4%) foi inferior ao relatado para a população do concelho de Lisboa pela DGEG (calculado com base nas Estatísticas Tarifa Social de Energia de janeiro de 2024: 6,5%; Direção-Geral de Energia e Geologia, 2024). No que diz respeito à tarifa social do gás, a percentagem de beneficiários foi ligeiramente superior (1,9%) aos valores divulgados no relatório da DGEG (0,9%; Direção-Geral de Energia e Geologia, 2024).
  • O atraso no pagamento de faturas de gás e/ou eletricidade devido ao valor ser demasiado elevado foi relatado por 8,7% dos participantes, aproximadamente o dobro do relatado para Portugal de 4,7% (Eurostat, 2022b). Esta resposta foi mais frequente entre as mulheres, participantes com escolaridade até ao 12.º ano e a viver em casas muitas vezes demasiado quentes.
  • No total, os participantes relataram gastar em média, por mês, 71,5€ em energia nos meses de verão. A média da fatura mensal de eletricidade foi de 57,5€ e a de gás 26,3€; a fatura combinada foi de 70,9€. O valor da fatura total relatado pelos participantes do sexo masculino e com idades entre os 45 e 64 anos foi superior. Relativamente aos valores discriminados, estas diferenças apenas se verificaram ao nível da fatura combinada.
  • Cerca de dois terços da amostra consideraram razoável pagar valores até 74€ por mês em gás, eletricidade, e outros combustíveis, para garantir o conforto térmico nas suas habitações. Este valor associou-se positivamente ao nível de rendimento.
  • Quando questionados sobre a qual a categoria de gastos financeiros mais importante entre conforto térmico outras categorias de despesas, o conforto térmico no verão foi considerado a prioridade por 69,5% em comparação com as despesas em restauração, por 51,1% em comparação com atividades culturais, por 41,5% em comparação com viajar, por 40,3% em comparação com as poupanças, por 7,1% em comparação com gastos em saúde e apenas por 2,5% em comparação com os bens alimentares.

Saúde e bem-estar

  • Cerca de dois terços das pessoas inquiridas classificou o seu estado de saúde como bom ou muito bom. Quase um terço classificou como razoável.
  • Dos participantes da terceira fase do inquérito, 23,4% encontravam-se com um nível de bem-estar fraco segundo a escala WHO-5. Este nível de bem-estar foi mais frequente entre as mulheres, participantes com escolaridade até ao 12.º ano e em situação de grave desconforto térmico no verão.
  • Quase dois terços da amostra relataram ter algum problema de saúde ou condição com diagnóstico médico confirmado.
  • As condições médicas mais frequentes entre os participantes que relataram ter problemas de saúde foram a hipertensão arterial (20,7%), a hipercolesterolemia (17,4%) e alergias (16,1%).
  • Mais de metade dos participantes sobre o verão relataram tomar medicação de forma regular. A toma de psicofármacos verificou-se mais frequente entre participantes que relataram que as suas habitações estavam muitas vezes demasiado quentes.
  • Das pessoas inquiridas na 3.ª fase do inquérito, 15,7% encontra-se em situação de insegurança alimentar ligeira (preocupação ou incerteza sobre o acesso a alimentos no futuro) e 7,5% relatou ter experienciado escassez alimentar por falta de dinheiro para comprar alimentos.
  • Mais de metade das pessoas inquiridas relataram que a sua qualidade do sono é prejudicada pelo calor que sentem em casa no verão. A realização de atividade física e exercício, a confeção de alimentos e a realização de tarefas domésticas também foram frequentemente relatadas como atividades dificultadas pelo calor.
  • A maioria dos participantes na 3.ª fase do inquérito relataram aumentar o consumo de água no verão. No entanto, 42,7% relatou beber menos de 1,5 litros por dia nesta época do ano.
  • Um terço das pessoas inquiridas sobre o verão considerou que o calor dentro da habitação não afeta em nada a saúde e 39,2% considera que afeta apenas um pouco.
  • Da análise de fatores associados à perceção de desconforto térmico em casa no verão, destaca-se o efeito negativo de ter asma (OR=1,80; IC 95% 1,11; 3,00) e alergias (OR=1,61; IC 95% 1,19; 2,20).

Informação e literacia

  • Mais de um quinto das pessoas inquiridas considerou não estar nada informado sobre os temas da energia e conforto térmico em casa. Esta perceção de pouca literacia sobre energia e conforto térmico foi mais frequente entre as mulheres, inquiridos mais jovens, e com nível de escolaridade até ao 12.º ano.
  • A maioria dos participantes considerou importante ou muito importante a existência de gabinetes de aconselhamento público sobre energia e conforto térmico.
  • Cerca de 30% das pessoas inquiridas nunca ouviram falar sobre programas de apoio para melhorar a eficiência energética habitacional.
  • Das pessoas que tinham conhecimento sobre a existência destes programas de apoio, 10,1% relataram ter submetido uma candidatura (5,1% já beneficiou do apoio).

Resultados

Caracterização Sociodemográfica

Sexo, Grupo Etário, Escolaridade, Situação Profissional e Tempo de Residência na Habitação

Variável
Verão
Inverno
Total
N = 1273
Masculino
n = 504
Feminino
n = 769
Total
N = 850
Masculino
n = 326
Feminino
n = 524
Grupo etário





    25-44 anos 459 (36.1%) 175 (34.7%) 284 (36.9%) 321 (37.8%) 118 (36.2%) 203 (38.7%)
    45-64 anos 415 (32.6%) 179 (35.5%) 236 (30.7%) 285 (33.5%) 113 (34.7%) 172 (32.8%)
    65+ anos 399 (31.3%) 150 (29.8%) 249 (32.4%) 244 (28.7%) 95 (29.1%) 149 (28.4%)
Escolaridade completa





    Instrução primária incompleta 2 (0.2%) 1 (0.2%) 1 (0.1%) 1 (0.1%) 0 (0.0%) 1 (0.2%)
    4º Ano (instrução primária) completo 35 (2.7%) 11 (2.2%) 24 (3.1%) 21 (2.5%) 8 (2.5%) 13 (2.5%)
    6º Ano (2º ano liceal / 2º Ciclo do ensino básico) completo 19 (1.5%) 10 (2.0%) 9 (1.2%) 11 (1.3%) 5 (1.5%) 6 (1.1%)